quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Brasileiros, Bolivianos, Paraguaios... A presença da imigração Boliviana e Paraguaia no Brasil

William Riascos

Segundo dados estatísticos o país com a maior presença de imigrantes na América é o Brasil e em especial os de origem latino-americana, da Bolívia e do Paraguai. Também existem outras imigrações significativas como do Peru e da Guiana Francesa. Essas afirmações, somadas com a idéia de que vivemos em comunidade e, portanto, devemos conhecê-la e dela participar, levam à necessidade de entender um pouco mais este processo de imigração e as condições em que vivem tais imigrantes, sobretudo os bolivianos e paraguaios.
A Bolívia tem aproximadamente 50 anos de presença de mão-de-obra no Brasil em condições de desqualificação profissional. De origem pobre, muitas vezes estes imigrantes são contratados desde seu país em condições precárias para o serviço de costura, consertos mecânicos, limpeza de fábricas e vendedoras, geralmente contratados por chineses e coreanos que vivem no Brasil. Em alguns casos identificados nas ruas e em lugares específicos por sua fisionomia, fenótipo e pela fala hispânica, esses bolivianos chegam ao país em uma condição indigna que muitas vezes se mantém.
A segunda maior imigração no Brasil ultimamente é de origem paraguaia. Os paraguaios mestiços são brancos e podem passar como qualquer brasileiro, a diferença é que não falam nem português nem espanhol, mas sim Guarani.
Das motivações para a imigração ao Brasil, no caso específico da cidade de São Paulo, são as condições sociais dos bolivianos e paraguaios em seu próprio país, de origem caipira, camponeses, trabalhadores da terra, pescadores ou de ofícios domésticos que não possuem segurança social, ou seja, vivem em situações de pobreza pior que as oferecidas pelos trabalhos quase escravos do Brasil.
Por não encontrarem possibilidades de trabalho digno em seu país de origem, eles procuram contatar amigos de famílias que tenham gente morando no Brasil e com quem emprega e transporta esses estrangeiros latino-americanos. Quando decidem vir ao Brasil para possível benefício de ambos (imigrantes e atravessadores), ao chegar na fronteira, alguns têm dinheiro para pagar a viagem, outros negociam pagar com seu trabalho.  O valor aproximado que se cobra para tal viagem da fronteira a São Paulo é de U$500,00, os quais são pagos aos atravessadores.
E aqui começa o sofrimento destas famílias em busca de um sonho e possibilidade de melhora. Uma vez instalados nos respectivos trabalhos arranjados operam máquinas de costura tanto na própria costura quanto no conserto dessas máquinas, são mecânicos ou faxineiros das mesmas e atuam como vendedores nas lojas. Passam a viver nas mesmas fábricas onde trabalham com seus filhos e família, locais improvisados dentro de casas antigas e sem recursos, muitas vezes em porões dos casarões velhos da região central de São Paulo.
Os assentamentos nos cortiços de São Paulo
Às sextas-feiras geralmente fazemos visitas e reuniões com os imigrantes bolivianos e paraguaios nos bairros do Pari, Brás, Canindé e na Av. João Teodoro onde se concentra o maior numero de cortiços. Passamos a compartilhar ali a tarde, celebrações de aniversário, futebol, costumes e comidas típicas, além de diálogos pessoais a fim de socializar e conhecer os reais sentimentos, muitos utópicos, que essa gente imigrante passa. Para ilustrar segue alguns exemplos:
Duas jovens paraguaias que chegaram a São Paulo há 03 anos, uma está com 17 anos outra com 21. Ambas moram em cortiços na Av. João Teodoro, a mais jovem trabalha como vendedora de roupas numa loja – sua rotina diária: acorda às 04 horas da manhã, pois não consegue dormir devido ao barulho dos moradores (todos vivem juntos num mesmo espaço). Levanta às 05 horas e não consegue tomar banho por causa da superpopulação do local e precisa chegar às 07 horas no emprego. Jornada de trabalho: 12 horas por dia. Para se alimentar e pegar a condução até o local do trabalho gasta por dia R$ 10,00, em 30 dias são R$ 300,00, não recebe beneficio nenhum por ser ilegal no Brasil, paga R$250,00 de aluguel do cortiço seu salário é de R$ 750,00.
A outra irmã chegou a Brasil com 18 anos, hoje com 21 tem um filho de 3 anos que levou ao Paraguai para viver com sua avó porque não consegue manter o menino nas condições do cortiço e por conta da jornada pesada de trabalho. Segundo ela, o marido depois que sai do trabalho não consegue ter um momento de lazer, passa trancado no cortiço. Ela diz que está perdendo a razão de viver, porém trabalha muito e ainda tem um fio de esperança em conseguir a casa própria.
Esses dois casos de mulheres imigrantes ilustram a situação de desesperança (e ao mesmo tempo de expectativas). O que fazer? Temos questionado a possibilidade de voltarem a seus países, mas eles preferem continuar aqui nessas condições. A resposta é porque querem conseguir a documentação de legalidade no Brasil e consequentemente trabalhos mais dignos;
Querem estudar;
Querem ser tratados com dignidade, pois se sentem minoria insignificante;
Necessitam de condições de tratamento de saúde;
A longo prazo, pensam em representações políticas.

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