Reynaldo de Sousa Cardoso
A sociedade atual ainda possui forte influencia de um paradigma de desenvolvimento voltado para o crescimento econômico, que se apóia na exploração em massa dos recursos naturais e no uso de tecnologias de larga escala, resultando em um consumo desenfreado e falta de equilíbrio entre os “indivíduos da sociedade” e da “sociedade com o meio ambiente”.
O conceito de desenvolvimento sustentável passa uma idéia de mudanças graduais e direcionadas, não significando apenas um crescimento quantitativo, mas sim um desdobramento qualitativo de complexidades de qualidade crescente, buscando o aperfeiçoamento e o melhoramento da condição humana dentro do sistema sócio ecológico.
A implantação de um sistema de desenvolvimento baseado na sustentabilidade deve contar com um trabalho multidisciplinar, abrangendo a política, a economia, a sociedade, o meio ambiente e as tecnologias utilizadas atualmente para buscar soluções de progresso no âmbito mundial. Esta visão ampla possibilita a geração de novas idéias para alcançar a harmonia e o equilíbrio entre os agentes envolvidos.
Um conceito colocado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (ONU) é aceito como o mais difundido e abrange, em geral, os assuntos para poder discutir e criar novas idéias com o objetivo de conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação do meio ambiente:
“Desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades presentes sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades”. 1987 ONU, Organização das Nações Unidas.
Esta definição deixa clara a idéia de necessidade de criação de um novo modelo de desenvolvimento, trazendo todo o conhecimento que adquirimos ao longo do tempo para aplicarmos da melhor forma possível os recursos naturais e, também para revermos o modelo de progresso com mudanças de paradigmas.
Para alcançar estas mudanças é necessário transformações de grandes proporções que envolve:
- Eliminar os paradigmas e obstáculos;
- Mapear, analisar e manter a base de conhecimentos acumulados;
- Dar suporte às bases sócio ambientais de adaptação e renovação, e identificar e acrescentar a capacidade necessária de renovação que se perderam ao longo do tempo;
- Estimular a inovação a experimentação e a criatividade social.
Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade
As conferências internacionais voltadas para a preservação do meio ambiente, o progresso econômico, tecnológico e social abordam dois principais temas que estão diretamente ligados entre si e são diferenciados apenas pelos meios de aplicação. Estes temas chamados de Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade trazem como base a total atenção sobre a questão dos recursos naturais serem finitos e ambos utilizam o mesmo conceito que é a busca de otimizar os recursos existentes para a produção e consumo consciente sem prejudicar o meio ambiente e principalmente não esgotar as reservas naturais, para que gerações futuras possam usufruir.
Os esforços nos trabalhos realizados para conseguir diminuir os riscos de esgotamento dos recursos naturais e degradação social estão voltados para a Sustentabilidade, já o planejamento de desenvolvimento para que estas medidas sejam implementadas estão associadas ao Desenvolvimento Sustentável, ou seja, Desenvolvimento Sustentável é caracterizado pelas medidas praticadas e efetuadas para desenvolver com qualidade preservando o meio ambiente e a Sustentabilidade é a ação ou qualidade do que se pode sustentar.
Bem público global
Após a primeira conferência das Nações Unidas, começou um novo regime sobre o meio ambiente associado a convênios e a um programa de ação global, com novos princípios de cooperação internacional. Estas ações são revistas e reforçadas constantemente com o objetivo de reforçar os vínculos participativos entre as nações e conciliar a agenda global com as agendas nacionais e regionais.
A agenda global tem como prioridade identificar e analisar os processos atuais de produção e de consumo não sustentáveis, principalmente quando a questão é voltada para energia, que demanda fontes renováveis com aplicação de tecnologia limpa e eficiente. Um marco importante foi o protocolo de Kyoto, reforçado recentemente com os acordos de Bonn e Marrakesh, que visa a atualização dos instrumentos e mecanismos utilizados para alcançar um desenvolvimento limpo.
Outro ponto de discussão na agenda global é o plano de ação para estabelecer um compromisso mundial de conservação da biodiversidade e do ecossistema traçando metas quantitativas e, aumentar a segurança do uso da biotecnologia com o objetivo de efetuar análises de risco na biodiversidade de seres vivos modificados.
Infra-estrutura e Desenvolvimento Sustentável
A aplicação do termo desenvolvimento na sociedade atual requer o mínimo necessário de condições básicas para propiciar um ambiente favorável em busca do progresso. A infra-estrutura é sem dúvida um instrumento para a redução da pobreza e a promoção de desenvolvimento que traz impactos positivos para a sociedade e para a produção local com respeito ao meio ambiente.
A falta de acesso a infra-estrutura ocasiona a marginalização do individuo, impedindo a plenitude da cidadania, e bloqueia o desenvolvimento das atividades produtivas, como por exemplo, a mais básica que é a agricultura, que utiliza a água como fonte de irrigação, até as mais complexas atividades industriais, que utiliza da distribuição da energia elétrica. Mas a sua disponibilidade mostra que não só soluciona estes problemas, mas também abre caminhos para novos mercados, resultando em um intercâmbio de serviços e tecnologia para o desenvolvimento das regiões menos desenvolvidas.
Segundo o Banco Mundial, a maior concentração da pobreza está localizada nas regiões rurais onde o aumento da produtividade e o nível de emprego estão diretamente relacionados com a infra-estrutura.
Apesar da afirmação do Banco mundial, a área rural apresenta vantagens como a possibilidade de produção de alimentos processados e a presença de água potável que possibilita a produção de produtos processados com grande valor agregado, gerando renda e aumentando o nível de emprego.
Domicílios por condição de saneamento e luz elétrica – 1996 (%)
Regiões | Água | Rede Coletora | Fossa Séptica | Lixo coletado | Luz elétrica |
Brasil | 74,2 | 40,3 | 23,3 | 87,4 | 92,9 |
Região Norte urbana | 59,7 | 8,9 | 39,7 | 64,7 | 96,8 |
Região Nordeste | 56,2 | 15,3 | 22,4 | 72,9 | 81,7 |
Região Sudeste | 86,5 | 69 | 13,9 | 92,9 | 97,8 |
Região Sul | 77 | 14 | 52,6 | 95,6 | 96,8 |
Região Centro-Oeste | 65,5 | 15 | 11,3 | 89,2 | 93,2 |
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: síntese de indicadores 1996.
Desenvolvimento Sustentável dentro das escolas de pensamento
Visão da CEPAL hoje e antes
Paradigma Liberal
Dentro de um cenário mundial surgiu a primeira evidência de um cenário mundial, regido por princípios e interesses europeus que impuseram um modelo comercial, institucional e produtivo, no qual a periferia não tinha outra opção, se não a importação de produtos manufaturados e a exportação de produtos primários.
A diplomacia brasileira procurou fazer prevalecer os direitos dos plantadores e exportadores de produtos primários, bloqueando a modernização interna, cedendo mercado para produtos manufaturados.
Para os liberais-conservadores o interesse nacional estava em primeiro lugar, ocasionando divisões sociais simples, composta fundamentalmente de grandes proprietários das terras e donos do poder, e o resto da sociedade, escravos, ex-escravos, trabalhadores livres, imigrantes. Mas com o tempo estes dirigentes confundiam os interesses nacionais com os próprios interesses, utilizando mão-de-obra barata para produzir e exportar e, importar bens de consumo.
Paradigma Desenvolvimentista
Nesta época a característica do Brasil foi a queda da exportação de produtos primários e da importação de manufaturados gerada pela crise econômica da década de 1930 e pelo protecionismo de mercado adotado pelas potências.
O contexto de discussão diplomática muda de foco e passa a adotar questões econômicas na política externa como o desenvolvimento da indústria para satisfazer a demanda nacional, ampliação de parques industriais a fim de conquistar ganhos recíprocos nas relações internacionais e de superar as desigualdades entre países.
Paradigma Neoliberal
Este pensamento nas relações internacionais é caracterizado pela mudança de comportamento do Estado dentro da economia, no qual deixa de ser um indutor desenvolvimentista e passa a ser um expectador do mercado, cabendo ao estado garantir a estabilidade monetária e ao mercado o desenvolvimento econômico.
A diplomacia não abandona conceitos clássicos como a busca pelo interesse nacional, mas adiciona características novas que atuam na análise do impacto do comércio internacional na economia e formação social.
Paradigma Logístico
O paradigma logístico surge no Brasil como uma herança do desenvolvimentismo, somando a doutrina clássica do capitalismo com o estruturalismo latino-americano, recuperando a autonomia de decisão do Estado, atuando num mundo de interdependência. É importante ressaltar que, apesar da base desenvolvimentista, há uma mudança no conceito no qual as responsabilidades foram transferidas para a sociedade e não existe mais a imagem de Estado-empresário.
Diferencia-se do Estado Normal consignando ao Estado não apenas a função de prover a estabilidade econômica, mas também a de secundar a sociedade na defesa dos seus interesses, na suposição de que não convém que sejam entregues unicamente às leis do mercado. Por fim, o Estado Logístico imita o comportamento dos estados do centro, particularmente dos EUA. A política exterior volta-se para a realização dos interesses nacionais diversificados.
O termo logístico deriva, portanto, do apoio logístico dado aos empreendimentos públicos e privados, a fim de robustecê-los em termos comparativos internacionais.
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