Os dados fazem parte do "Mapa da Violência 2012: A Cor dos Homicídios no
Brasil", divulgado nesta quinta-feira (29) em Brasília, pelo Centro Brasileiro
de Estudos Latino-Americanos (Cebela), a Faculdade Latino-Americana de Ciências
Sociais (Flacso) e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da
Presidência da República (Seppir).
De acordo com o professor Julio Jacobo, responsável pelo estudo, os dados são
“alarmantes” e representam uma “pandemia de mortes de jovens negros”. Entre os
fatores que levam a esse panorama, ele cita a “cultura da violência” --tanto
institucional como doméstica, e a impunidade. Segundo o professor, em apenas 4%
dos casos de homicídios no Brasil, os responsáveis vão para a cadeia.
“O estudo confirma que o polo de violência no país são os jovens negros e não
é por casualidade. Temos no país uma cultura que justifica a existência da
violência em várias instâncias. O Estado e as famílias toleram a violência e é
essa cultura que faz com que ela se torne corriqueira, que qualquer conflito
seja resolvido matando o próximo”, disse Jacobo.
O professor defende políticas públicas mais amplas e integradas para atacar a
questão, principalmente na área da educação. “Há no país cerca de 8 milhões de
jovens negros que não estudam nem trabalham. As políticas públicas de
incorporação dessa parcela da população são fundamentais para reverter o
quadro”.
Ainda segundo o estudo, a situação mais grave é observada em oito Estados,
onde a morte de jovens negros ultrapassa a marca de 100 homicídios para cada 100
mil habitantes. São eles: Alagoas, Espírito Santo, Paraíba, Pernambuco, Mato
Grosso, Distrito Federal, Bahia e Pará. A análise por municípios é ainda mais
preocupante: em Simões Filho, na Bahia, e em Ananindeua, no Pará, são
registrados 400 homicídios de jovens negros por 100 mil habitantes.
Taxa de assassinato entre a população negra no Brasil é superior à de muitas regiões em conflito armado
O professor enfatizou que as taxas de assassinato entre a população negra no
Brasil são superiores às de muitas regiões que enfrentam conflitos armados.
Jacobo também comparou a situação brasileira à de países desenvolvidos, como
Alemanha, Holanda, França, Polônia e Inglaterra, onde a taxa de homicídio é 0,5
jovem para cada 100 mil habitantes.
“Para cada jovem que morre assassinado nesses países, morrem 106 jovens e 144
jovens negros no Brasil. Se compararmos com a Bahia, são 205 jovens negros para
cada morte naqueles países; e no município baiano de Simões Filho, que tem o
pior índice brasileiro, são 912 mortes de jovens negros para cada assassinato de
jovem”, disse.
O secretário-executivo da Seppir, Mário Lisboa Theodoro, enfatizou que o
governo federal tem intensificado as ações para enfrentar o problema que
classificou de “crucial”. Ele lembrou que foi lançado em setembro, em Alagoas, o
projeto Juventude Viva, para enfrentar o crescente número de homicídios entre
jovens negros de todo o país. A iniciativa prevê aulas em período integral nas
escolas estaduais, a criação de espaços culturais em territórios violentos e o
estímulo ao empreendedorismo juvenil, associado à economia solidária.
O Juventude Viva é a primeira etapa de uma ação mais ampla –o Plano de
Prevenção à Violência Contra a Juventude Negra.
Fonte: UOL
http://mapadaviolencia.org.br/
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