O recado do papa Francisco foi claro: a misericórdia é a atitude da hora!
Sua visita à comunidade de Varginha toca em cinco chagas que machucam o corpo
dos pobres nas periferias urbanas.
Ele fala aos esquecidos. Revela como sanar as dores centenárias impostas pela
elite. Faz discurso profético e sapiencial. Vemos no papa a força de dom Helder
Câmara e o amor preferencial de dom Luciano Mendes de Almeida.
Francisco unge o pobre com o óleo santo da verdadeira revolução. Sem magia
nem oportunismo. Arranca os crucificados da cruz convocando-os a viver a sua
própria ressurreição cidadã.
A primeira chaga nas mãos brasileiras é que existe gente insensível às
desigualdades no mundo! A injustiça social fabricada e mantida por grupos
econômicos e políticos nega a pessoa humana e invisibiliza os empobrecidos.
A segunda ferida a rasgar a nossa carne é a cultura do descartável, que
segrega e confina milhões de pobres em favelas e cortiços, em injusto apartheid
de periferias, chamadas pelo papa Paulo 6º de nova "coroa de espinhos" nas
cidades.
A terceira dor que machuca demais é quando muitos, inclusive no Congresso
Nacional, ignoram os pilares fundamentais que sustentam uma nação. Um pilar
nevrálgico hoje negado aos pobres é o direito à segurança, já que a violência
rouba a vida dos jovens e dos pobres.
A quarta chaga que perfura os pés dos brasileiros é a corrupção dos que
procuram o seu próprio benefício desfigurando a verdadeira ação política. Esta é
a chaga histórica que atrasa a vida da pátria.
A última chaga que abre o peito do pobre é a solidão e a falta de organização
articulada da sociedade civil. Aí reside a fraqueza dos pobres, que pode
transformar-se em sua força: um feixe de varinhas frágeis é bem difícil de
quebrar.
O papa Francisco toca nossa carne e nossa alma. Fala ao coração entrando na
casa do pobre, ao descobrir nosso segredo tupiniquim: sempre tem lugar na mesa
para quem sabe repartir o pão.
Sempre se pode "colocar mais água no feijão"! Toda verdadeira mudança começa
por dentro e por baixo, na fé e na amizade. Na companhia de Jesus e Francisco:
"Vocês não estão sozinhos, a Igreja está com vocês, o Papa está com vocês."
Fernando Altemeyer Junior, mestre em teologia e doutor
em ciências sociais, é professor de ciências da religião da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo
Fonte Folha
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/07/1317037-analise-papa-francisco-fala-dos-esquecidos-em-seus-discursos.shtml
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