terça-feira, 23 de agosto de 2011

Angola: Uma história de dinâmicas convergentes

Simão Souindoula
21.08.2011, Jornal de Angola

Angola é um país que viveu um período pós-independência de dinâmicas convergentes, derivando, nas origens, da decisão da configuração territorial actual, disposição convencional tomada um pouco depois da segunda metade do século XIX. Apesar das graves convulsões desses últimos decénios, bem apadrinhadas por forças exógenas, anti-progressistas, conheceu, na realidade, uma longa evolução histórica feita, em última análise, de sinergias convergentes.

Com efeito, da fase proto-histórica à ancoragem ao ciclo histórico, o país produziu um conjunto de linhas de aproximação marcadas pela coexistência de populações, linguística e antropologicamente bastante próximas cuja dinâmica evolutiva foi feita de uma maior consolidação de similitudes, uma expansão sempre mais integrativa, de fusões humanas constantemente mais aprofundadas, de reforço de alianças políticas mais alargadas e a emergência de formações sociais trans-étnicas sempre mais sólidas.

São essas entidades que resistirão, todas, de acordo, evidentemente, com as suas sensibilidades e as suas leituras, aos cálculos mercantilistas, à submissão esclavagista, à primeira ocupação colonial, à dominação colonial moderna e à vassalagem neo-esclavagista.

Reagrupadas num bloco territorial único e munidas das mesmas experiências de civilização e de história, as populações angolanas organizarão a resistência ao poder colonial, à escala local, regional ou nacional; e, sob diversas formas, sociais, associativas, religiosas, sindicais, políticas, insurreccionais e militares.

É a irreversível acumulação desses diferentes esforços que permitiu ao país libertar-se do jugo colonial.
Apesar das leituras descontínuas sobre a evolução pós-independência, os pontos essenciais de consenso nacional prevaleceram, natural e finalmente.

Esta plataforma de balizas de aceitação nacional baseou-se na irreversibilidade da independência nacional, o controlo soberano dos recursos nacionais, a aplicação de uma política de justiça social, a formação dos recursos humanos, a consolidação da reconciliação nacional, o reforço da unidade nacional, o reforço do tecido nacional, uma maior democratização do país, um desenvolvimento económico são e contínuo e o bem-estar social das populações.

As similitudes linguísticas e as afinidades antropológicas atestadas assim como a evolução histórica do país, durante os dois mil anos da nossa era, produziram um conjunto de trunfos incontestavelmente convergentes, que permitiu, sem dúvida, a cristalização em prazos históricos, razoavelmente próximos, uma verdadeira nação angolana.

Simão Souindoula, Historiador, Perito da UNESCO PALESTRA para a FUNDAÇÃO EDUARDO DOS SANTOS
Fonte: Jornal de Angola

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