sexta-feira, 23 de março de 2012

Ódio e preconceito:assim alimentamos a cultura da violência

Sociedade deve estar atenta às situações que são o percurso da construção de uma cultura da violência

Paula Miraglia

A Polícia Federal (PF) prendeu  quinta-feira  (22.03) dois suspeitos de manter um blog com conteúdo racista e violento. Os posts promoviam o abuso sexual de crianças e adolescentes, além do ódio e agressão a diferentes grupos, entre eles mulheres, negros, homossexuais, nordestinos e judeus. Não é a primeira vez que conteúdo racista e violento circula na internet ou aparece nas redes sociais. A Justiça no País tem enfrentado cada vez mais situações como essa.

Mas além do aparato legal, a sociedade brasileira parece ainda ter dificuldade em reconhecer como esse tipo de comportamento alimenta a violência vivida no cotidiano. Nesse caso específico, a ligação é evidente: além do conteúdo do blog, segundo a PF, os suspeitos estariam planejando um ataque contra estudantes da Universidade de Brasília (UnB).

Mas mesmo sendo o racismo considerado crime nos dias de hoje, o grau de tolerância com condutas racistas ainda é objeto de controvérsia como mostra a polêmica recente em torno do espetáculo supostamente de humor que terminou com a polícia sedo chamada. Tratar um conteúdo agressivo e racista como objeto de piada, além de pouca criatividade, é o tipo de covardia que se esconde sob uma falsa formulação de liberdade de expressão.

Tais eventos contribuem para consolidar a ideia de que o ódio, o racismo e o preconceito podem ser assimilados aos nossos valores. Esse é precisamente o percurso da construção de uma cultura da violência.

É papel do Estado intervir e evitar que esses crimes sigam acontecendo. Mas a criminalização de condutas não é suficiente para tanto. O caso dos blogueiros do ódio foi exemplar nesse sentido. A solução não passou apenas pela previsão legal, ainda que ela fosse fundamental para que as medidas fossem tomadas.

Houve uma mobilização maciça da sociedade civil - foram quase 70 mil denúncias e demandas de providências em relação ao conteúdo criminoso da página. Houve também um esforço de investigação por parte da Polícia Federal que conseguiu identificar e prender os suspeitos. Por fim, a repercussão da prisão, mostra como a sociedade está cada vez menos conivente com esse tipo de manifestação.

É nesse conjunto – que reúne leis, o sistema de justiça, a sociedade civil e a própria mídia – que reside o verdadeiro potencial de transformação social e cultural.

Paula Miraglia, antropóloga
Fonte IG

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