quarta-feira, 6 de julho de 2011

Juan Moraes


Juan Moraes, 11 anos.
Corpo achado dentro do Rio Botas em Belford Roxo, na Baixada Fluminense Juan Moraes de 11 anos, mais uma vítima inocente da violência policial, que estava desaparecido desde o dia 20 de junho. 


Foto: Reginaldo Pimenta/Agência O Globo

Juan desapareceu após ter sido supostamente baleado em um confronto na favela Danon, em Nova Iguaçu. No tiroteio, uma pessoa morreu e duas pessoas foram atingidas, entre elas o irmão mais velho de Juan, Wellington, de 14 anos.

PM investigado pelo sumiço de Juan, 11, é acusado de homicídio


Trechos de entrevista do Presidente da Anistia Internacional, Salil Shetty ao IG, em 28/04/2011

"Os brasileiros pobres e árabes que protestam por democracia mostram que direitos humanos são “interdependentes e indivisíveis”. Em comum, o fato de não terem voz.

“As questões estão interligadas: as pessoas nas favelas não têm direitos sociais e econômicos básicos. E falamos sobre isso como se fosse algo em outro lugar: mas está acontecendo bem aqui! A pobreza está na raiz de muitos desses problemas. Na prática basta ir a uma favela para entender o que isto significa."


"...O que nos preocupa no Brasil é que há uma grande distância entre as políticas e sua implementação, em várias áreas. Uma das principais é a violência policial e segurança pública. É um fenômeno urbano também, o Brasil tem algumas das maiores cidades do mundo. Também há algum progresso nessa área, mas o nível de assassinatos por policiais é muito alto. Brasil tem grandes populações, mas 20% dos homicídios são causados pela polícia. Há intimidação e injustiça. Muitas dessas pessoas são pobres, mulheres e crianças

"...Se conversar com a elite egípcia – ou brasileira, ou indiana – eles nem sabem que há uma ditadura. Quem são os brasileiros agredidos pela polícia? Os pobres, negros, mulheres e crianças. Por isso os direitos humanos são interdependentes e indivisíveis. Teoricamente, se for à declaração verá isso. Mas, na prática, basta ir a uma favela para entender o que isso significa."


Para secretário-geral da entidade, pobreza está na raiz das violações de Direitos Humanos

iG: E o que é possível fazer para mudar isso?

Shetty: Deveria haver profundas reformas na polícia, profissionalização, integração entre as polícias e muito mais investigação independente, porque muito da violência também tem relação com corrupção. A não ser que haja investigação, haverá uma espiral de violência. O sistema penitenciário, com tem um histórico muito negativo, também precisa de investimento de grande escala e reforma. A Anistia tem uma análise clara do problema. No Brasil temos muitas leis, mas as pessoas não têm acesso à Justiça. As leis e instituições são essenciais, mas o que fazemos é chamar atenção para as violações e pressionar o governo a prestar contas e fazer essas pessoas prestarem contas. Muitas vezes as pessoas não entendem. As questões são confusas.

Por exemplo, violência policial. Há uma discussão clássica, que acontece na Índia, por exemplo. Mas essas pessoas (vítimas da polícia) não são criminosas? Ninguém está negando o fato de que há violações de todos os lados – todos devem responder –, mas o fato é que há muita violência com origem nas forças de segurança, que devem responder por isso.

O secretário-geral da Anistia Internacional, Salil Shetty. (Foto: CSIS)

iG: O sr. é considerado expert em mobilizar pessoas. Que campanhas podem ser feitas para mobilizar brasileiros em favor da causa dos direitos humanos?
Shetty: O trabalho da Anistia é pressionar para que isso mude. Fazemos isso por meio de campanhas, análises e pela mídia, mas muito disso é feito por pressão pública. Vamos entregar ao ministro da Justiça uma petição com mais de 20 mil assinaturas sobre o caso dos guaranis-kaiowá, expulsos de suas terras. Isso vem de uma pressão internacional, mas também queremos fazer os brasileiros se mobilizarem, precisa vir dos brasileiros. As questões estão interligadas. Estamos discutindo violência policial nas favelas. Mas as pessoas nas favelas não têm direitos sociais e econômicos básicos. A pobreza está na raiz de muitas desses problemas. Por que há tanto tráfico de drogas e dessas coisas que acontecem? As alternativas são muito poucas e ruins. É a indivisibilidade de direitos que as pessoas precisam ter. O Oriente Médio e os países do norte da África mostraram isso de uma maneira clássica. As pessoas que estão protestando agora estão porque não têm emprego e porque não tem voz. São duas coisas de uma só vez. Então, se você está em uma favela é exatamente a mesma coisa. E falamos sobre isso como se fosse algo em outro lugar: mas está
acontecendo bem aqui.É uma zona de exclusão constitucional.

Fonte: IG. Titulo da entrevista: "Brasil deve pôr a casa em ordem se aspira a Conselho da ONU, diz Anistia.

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