segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A barreira da desigualdade

Fábio Konder Comparato, na CartaCapital, via redecastorphoto

Sem erradicar a pobreza e a marginalização social, é impossível fazer funcionar regularmente o regime democrático

A ligação entre democracia e direitos humanos é visceral, pois trata-se de realidades intimamente correlacionadas. Sem democracia, os direitos humanos, notadamente os econômicos e sociais, nunca são adequadamente respeitados, porque a realização de tais direitos implica a redução substancial do poder da minoria rica que domina o País. Como ninguém pode desconhecer, sem erradicar a pobreza e a marginalização social, com a concomitante redução das desigualdades sociais e regionais, como manda a Constituição (art. 3º, III), é impossível fazer funcionar regularmente o regime democrático, pois a maioria pobre é continuamente esmagada pela minoria rica.

Acontece que o nosso País continuar a ostentar a faixa de campeão da desigualdade social na América Latina, e permanece há décadas entre os primeiros colocados mundiais nessa indecente competição. Em seu último relatório, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (PNUD) mostrou que os setores de mais acentuada desigualdade social, no Brasil, são os de rendimento e educação.

É óbvio que essa realidade deprimente jamais será corrigida simplesmente com a adoção de programas assistenciais do tipo Bolsa Família. Trata-se de um problema global, ligado à estrutura de poder na sociedade. Para solucioná-lo, portanto, é indispensável usar de um remédio também global. Ele consiste na progressiva introdução de um autêntico regime republicano e democrático entre nós. Ou seja, no respeito integral à supremacia do bem comum do povo ( a res publica romana) sobre o interesse próprio das classes e dos grupos dominantes e seus aliados. Ora, se a finalidade última do exercício do poder político é essa, fica evidente que ao povo, e a ele só, deve ser atribuída uma soberania efetiva e não meramente simbólica, como sempre aconteceu entre nós.

Para alcançar esse desiderato, é preciso transformar a mentalidade dominante, moldada na passiva aceitação do poder oligárquico e capitalista. O que implica um esforço prolongado e metódico de educação cívica.

Concomitantemente, é indispensável introduzir algumas instituições de decisão democrática em nossa organização constitucional. Três delas me parecem essenciais com esse objetivo, proque provocam, além do enfraquecimento progressivo do poder oligárquico, a desejada pedagodia política popular.

A primeira e mais importante consiste em extinguir o poder de controle, pelo oligopólio empresarial, da parte mais desenvolvida dos nossos meios de comunicação de massa. É graças a esse domínio da grande imprensa, do rádio e da televisão, que os grupos oligárquicos defendem, livremente, a sua dominação política e econômica.

O novo governo federal deveria começar, nesse campo, pela apresentação de projetos de lei que deem efetividade às normas constitucionais proibidoras do monopólio e do oligopólio dos meios de comunicação de massa, e que exigem, na programação das emissoras de rádio e televisão, seja dada preferência a finalidades educativas, artísticas e informativas, bem como à promoção da cultura nacional e regional.

A esse respeito, já foram ajuizadas no Supremo Tribunal Federal algumas ações diretas de inconstitucionalidade por omissão. É de se esperar que a nova presidenta, valendo-se do fato de que o Advogado-Geral da União é legalmente “submetido à sua direta, pessoal e imediata supervisão”( Lei Complementar n˚ 73, de 1993, art.3˚, § 1°), dê-lhe instruções precisas para que se manifeste favoravelmente aos pedidos ajuizados. Seria, com efeito, mais um estrondoso vexame se a presidenta eleita repetisse o comportamento do governo Lula, que instruiu a Advocacia-Geral da União a se pronunciar, no Supremo Tribunal Federal, a favor da anistia dos assassinos, torturadores e estupradores do regime militar.

As outras duas medidas institucionais de instauração da democracia entre nós são: 1. A livre utilização, pelo povo, de plebiscitos e referendos, bem como a facilitação da iniciativa popular de projetos de lei e a criação da iniciativa popular de emendas constitucionais. 2. A instituição do referendo revocatório de mandatos eletivos (recall), pelos quais o povo pode destituir livremente aqueles que elegeu, sem necessidade dos processos cavilosos de impeachment.

Salvo no tocante à iniciativa popular de emendas constitucionais, já existem proposições em tramitação no Congresso Nacional a esse respeito, redigidas pelo autor destas linhas e encampadas pelo Conselho Federal da OAB: os Projetos de Lei n˚ 4.718 na Câmara dos Deputados e n˚ 001/2006 no Senado Federal, bem como a proposta de Emenda Constitucional n˚ 26/2006, apresentada pelo senador Sérgio Zambiasi, que permite a iniciativa popular de plebiscitos e referendos.

Mas não sejamos ingênuos. Todos esses mecanismos institucionais abalam a soberania dos grupos oligárquicos e, como é óbvio, sua introdução será por eles combatida de todas as maneiras, sobretudo pela pressão sufocante do poder econômico. Se quisermos avançar nesse terreno minado, é preciso ter pertinácia, organização e competência.

Está posto, aí, o grande desafio a ser enfrentado pelo futuro governo federal. Terá ele coragem e determinação para atuar em favor da democracia e dos direitos humanos, ou preferirá seguir o caminho sinuoso e covarde da permanente conciliação com os donos do poder?

É a pergunta que ora faço à presidenta eleita.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

África Berço da Humanidade E Sua Contribuição Fundamental Para a Cultura E A Produção do Conhecimento Científico Mundial

Timbuktu Patrimônio da História da Humanidade
História Geral da África
Lei 10639/2003
                                                                         Elenice Semini
Há pelo menos três milhões de anos, a África vem contribuindo com culturas, conhecimento , técnicas e tecnologias para o mundo.  Tais conhecimentos foram repassados ao longo do tempo, não por  tribos como frequentemente se pensa a respeito dos povos africanos, mas por sociedades constituídas  e organizadas, é o que revela  A Coleção da História Geral da África.
No séc. XV Timbuktu contava com 100000 habitantes dentre os quais 25000 “estudantes” que freqüentavam a Universidade de Sankoré, atualmente transformada em mesquita.
 Timbuktu (em português Tombuctu), situada ao nordeste do atual Mali, ao sul do deserto do Saara. Na  cidade localiza-se o Centro Ahmed Baba, com sua monumental coleção de antigos manuscritos que registram  mais de um milênio de estudos que comprovam história de ricos reinos africanos, entre os quais o famoso Império Gana. O estudo desses documentos  é um novo olhar para a África e para o mundo.
Timbuktu foi sede de uma vida intelectual intensa.
Durante o período colonial, famílias de Timbuktu, que tinham o hábito de colecionar bibliotecas particulares constituídas por manuscritos em pergaminhos decidiram esconder seus livros, para evitar desvios. Por isso as obras passaram os últimos séculos escondidas Manuscritos foram enterrados, escondidos no fundo de poços ou levados para longe, em grutas ou no deserto de Saara.
Desde 1964 a  Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO),   fez um apelo para recuperar e reunir este precioso acervo. A partir dos anos 90 parte dele começo a aparecer (aproximadamente 200 bibliotecas particulares), e estão sendo realizados projetos e conservação e preservação.
Mais de 15000 documentos já foram exumados catalogados sob orientação da UNESCO. Outros 80000 estão em algum lugar, em baús ou no fundo de celeiros da cidade mítica. Escritos preciosos  que fizeram a glória do  vale do rio Níger entre os séculos XIII e XIX, estão ameaçadas de decomposição e de pilhagem por traficantes.
As três grandes cidades da região (Timbuktu, Gao e Dejanné) tornaram-se os pólos de uma efervescente civilização islâmosudanesa cuja memória permaneceu viva. No século XV Timbkutu contava com 100000 habitantes, dos quais 25000 “estudantes” que freqüentavam a universidade de Sankoré, atualmente transformada em Mesquita.
As conferências dos ulemás, sábios muçulmanos eram transcritas por copistas sobre cascas de árvores, omoplatas de camelos, peles de carneiro, ou papel proveniente do Oriente e depois da Itália. Assim, ao longo dos séculos, foi se constituindo um preciosos corpus filosófico, jurídico e religioso.
Considerados como um maná científico inédito, os manuscritos contradizem o mito da oralidade africana.
O Mali foi ocupado pelos franceses em finais do séc. XIX, tendo se tornado parte do “Sudão Francês” em 1890. Em 1958, o território tornou-se autônomo, mas fazendo parte da “Comunidade Francesa” e alcançou independência em 11 de setembro de 1960.  
http://www.enciclopedia.com.pt/articles. php?Article_id=982

                            MANUSCRITOS DE TIMBUKUTU

 
http://www2.uol.com.br/historiaviva/noticias/manuscritos_do_timbuktu_do_deserto_para_a_net.html

Leio com emoção e orgulho que em 09.12 p.p. a UNESCO no Brasil, o Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar),  lançaram no Brasil a Coleção História Geral da África em Português. A edição completa da coleção já foi publicada em inglês, árabe,  francês e em várias outras línguas incluindo hausa, e swahili. A obra teve sua primeira edição em inglês  em 1981. Durante 30 anos, 350 pesquisadores/especialistas das mais diversas áreas de conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos. A obra possui  oito volumes e aproximadamente dez mil páginas, que integram a coleção abordam o continente  desde a pré história até a década de 1980, passando pelo Egito Antigo,  por diversas civilizações e dinastias, pelo tráfico de escravos, pela colonização européia e pela independência dos diversos países. A África é destacada como berço da humanidade e de contribuição fundamental para a  cultura e a produção  do conhecimento científico mundial.
Um dos projetos editoriais mais importantes da UNESCO nos últimos trinta anos, a coleção História Geral da África é um grande marco no processo de reconhecimento do patrimônio cultural da África, pois ela permite compreender o desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com outras civilizações a partir de uma visão panorâmica, diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente.
“Ao se disseminar no país o conhecimento sobre a África, é possível promover uma importante mudança das relações étnico-raciais. Existe uma preconcepção de que a história da África começa a partir da colonização e do tráfico negreiro. Mas as contribuições do continente para a humanidade são muito maiores e muito mais antigas do que o imaginado pelo senso comum. E isso precisa ser conhecido.”Vicent Defourny, representante da UNESCO no Brasil.
A História e a Redescoberta dos valores africanos no Brasil e no mundo:  A coleção é base para pesquisa de especialistas e profissionais de todo o mundo que de alguma forma lidam com a história do continente, bem como subsidia a formação  de professores de diversas áreas do conhecimento, constituindo extensa fonte para a produção de material pedagógico voltado para as escolas. Possibilita também  a   transformação das relações étnico-raciais no país. A intenção é fazer com que professores e estudantes lancem um novo olhar sobre o continente africano e entendam sua contribuição para a formação da sociedade.
 Lei 10639/2003 – Diretrizes Curriculares Nacionais Para a Educação das Relações Étnico-Raciais para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
A coleção da História Geral da África em língua portuguesa será distribuído pelo Ministério da Educação e estará a disposição dos interessados em todas bibliotecas municipais, estaduais e distritais; nas bibliotecas das Instituições de Ensino Superior, dos Polos da Universidade Aberta do Brasil, dos Núcleos de estudos Afro-Brasileiros, dos Conselhos Estaduais ou Distrital de Educação. Mais informações   www.unesco.org.br

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Aline da Silva Freitas
A expressão “o homem é um ser social” parece familiar? Muitas pessoas já se depararam com esta afirmação segundo a qual se reconhece que todas as pessoas estão de alguma forma estabelecendo contato com outras, ou seja, vivendo em sociedade. Seria possível imaginar alguém vivendo plenamente isolado? À exceção de filmes e algumas remotas histórias, em regra as pessoas convivem com outras e nesta convivência a comunicação possui um papel muito importante.
O papel da comunicação é o de servir como meio para que as informações sejam divulgadas, discutidas, modificadas e etc. Esse compartilhamento de informações pode ser feito de muitas formas, uma delas é a forma virtu@l, que com o desenvolvimento crescente das tecnologias está a cada dia mais enraizada na vida de muitas pessoas (mas ainda não de todas, infelizmente), além de mais elaborada e complexa (mas não impossível de acompanhar!).
Dentro do espaço virtual, há também muitas formas de divulgar informações. As informações pessoais podem ser trocadas, por exemplo, via e-mail, MSN e depoimentos no Orkut. As profissionais, também ocorrem por e-mail (muitos deles da própria empresa em que a pessoa trabalha) e outros como serviços intranet específicos do ambiente de trabalho. Esses dados também podem ser divulgados em outros ambientes virtuais, como um Blog.
Mas o que é um Blog? Serve apenas para essa comunicação de dados pessoais ou profissionais? Não! Em busca simples no Google consegue-se levantar uma lista de respostas para a pergunta “o que é um blog?”. Todas as respostas levam a uma conclusão: é um espaço em que uma ou mais pessoas postam textos de caráter geralmente pessoal e/ou técnico e em que os leitores podem interagir, mandando suas opiniões sobre os textos, contribuindo para que novas postagens ocorram e assim o Blog seja constantemente atualizado.
Esse é o objetivo desde Blog “Cidadania 10!”. Um grupo de pessoas que deseja construir com o leitor um espaço virtual em que periodicamente textos pequenos serão postados, com alguns conceitos e percepções sobre cidadania e temas relacionados (são muitos!).
Divulgados os textos, espera-se a resposta do leitor. Se ele concorda ou não, se tem críticas e informações para trocar... Esta resposta também pode ser diferente: conversar com outras pessoas próximas sobre o que está no Blog, criando uma rede de informações!
A ideia é cada vez mais ampliar este espaço, para artigos mais elaborados, indicações de livros, revistas, filmes, músicas, sites e aos poucos o Blog irá evoluir para um site, que é um mecanismo virtual de comunicação mais elaborado e com mais recursos.
Os membros do grupo explicam: “estamos sempre em construção! Você também!”
Comunique-se! É um direito humano!

Cidadania


Aline da Silva Freitas

Cidadania é uma palavra que possui diversos conceitos, os quais foram sendo construídos e modificados no decorrer do tempo. Atualmente seu conteúdo é muito amplo e envolve, entre outros elementos, viver em sociedade e nesta ter direitos e deveres.
Um bom conceito que de maneira simples exemplifica isso é o desenvolvido por um adolescente chamado João Pedro Mello, segundo ele a cidadania é “participar”. Ele explica que “se todos fazem parte de uma mesma comunidade, todos devem colaborar para um bem comum...”
Você mesmo sem perceber participa no cotidiano de muitas pessoas. A participação citada neste texto é na sua família, no seu bairro, na sua escola e etc. Esse “participar” pode ser de muitas formas e ter muitos resultados.
O que você tem feito para melhorar o convívio e participação na vida das pessoas que você encontra nesses meios? O que as pessoas têm feito por você? Você sabe quais são seus direitos e deveres? As crianças e adolescentes têm direitos e deveres?
São muitos e aqui neste espaço sobre tais direitos e deveres serão postados diversos textos, para que você conheça um pouco mais o que diz a lei, o que está sendo feito para que a lei seja cumprida e o que você pode fazer para colaborar com isto.
Para começar um estudo sobre cidadania, além das informações que serão fornecidas neste Blog, pode o leitor pesquisar dois pequenos livros que são muito bons!
O primeiro é o “O que é cidadania”, de Maria de Lourdes Manzini Crove, da Editora Brasiliense. Este livro está incluso em uma Coleção denominada de “Primeiros Passos”, trazendo noções introdutórias para os interessados no relevante tema da Cidadania.
O segundo é o “Direitos humanos e cidadania”, de Dalmo de Abreu Dallari, Editora Moderna. Nesta obra, o autor demonstra a relação entre a cidadania e os direitos humanos, além de anexar a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Vale muito a leitura!

Lembre-se: você muda a vida das pessoas e elas mudam a sua vida.


Democracia

Por Robson Cervera de Oliveira
Andar livremente na rua no horário em que bem entender, conversando com quem quiser e se reunir com um número indeterminado de pessoas para discutir o assunto que achar interessante ou urgente.
Todas as pessoas terem o mesmo poder de decisão sobre o país, e o mesmo poder de defesa contra a arbitrariedade do governo ou de outras pessoas.
Em uma sociedade que tem conhecimento de seus problemas, e sabe que o único jeito de superá-los é com a participação de todos e o respeito a todos.
Liberdade, igualdade e fraternidade!
Estas palavras, exemplificadas anteriormente de forma simples, representam o ideal de uma grande quantidade de pessoas no decorrer da história. Um ideal de viver com segurança, paz e liberdade suficientes para trabalhar dignamente para o seu sustento e aproveitar os prazeres que a vida tem a oferecer.
Mas como se aproximar destes ideais? Como tentar garantir a segurança, a paz, a liberdade, a igualdade e a fraternidade? Como trabalhar dignamente, ganhando o justo, e aproveitar a vida da forma como melhor entendemos?
Se todo objetivo, para ser alcançado, apresenta um caminho que é melhor que os outros, uma forma mais eficiente, uma organização específica – disposição eficiente dos recursos e dos esforços – que chegará a um resultado mais próximo do ideal, é de se esperar que exista uma forma mais eficiente de se organizar a sociedade para se objetivar liberdade, igualdade e fraternidade. Acreditamos e as experiências históricas confirmam que a melhor forma, a mais eficiente na busca destes objetivos, é a democrática.
E o que é democracia? Democracia é a forma de governo em que o povo é tido como o titular da soberania - poder decisório de última instância, que fixa as grandes diretrizes governamentais e fiscaliza a atuação dos administradores -, isto é, a população que decide os rumos da sociedade; quem detém o poder político, por quanto tempo, onde serão feitos os investimentos do Estado, como a economia se organizará.
A soberania pode ser exercida indiretamente, com a eleição de representantes – presidente, governadores, senadores, deputados federais, estaduais, prefeitos e vereadores – ou diretamente, por instrumentos de participação – eleições, plebiscito, referendo, comissões e recall – ou por mobilização popular.

Partidos Políticos

                                                                                      José Luiz
Pode-se notar no Brasil o enfraquecimento dos partidos políticos. A Lei Eleitoral vigente tem seus méritos, mas por determinados motivos específicos também tem conduzido para o descrédito do eleitor junto aos partidos e o crescimento individual dos candidatos. Você mesmo pode dar diversos exemplos de pessoas que são capazes de fazer uma lista de políticos e talvez encontre dificuldades de indicar o partido a que estão filiados. O sistema acaba muitas vezes incentivando a disputa dentro dos partidos, dificultando a união partidária.
Os eleitores brasileiros votam nos candidatos e não nos partidos. Em tempos de campanhas políticas, sempre ouvimos das pessoas frases como: “eu voto no candidato, o partido para mim ‘pouco importa’”. Essa mentalidade está enraizada na sociedade e decorre das muitas criações e extinções de partidos sem nenhuma ideologia justificada. Poucos partidos são efetivamente expressivos, sendo que temos hoje em atividade no Brasil 27 partidos! Muitos destes criados apenas para serem usados como “legenda de aluguel” e moeda de troca nos períodos de eleições.  
Diante deste cenário o eleitor tende a votar sem compromisso com as plataformas ou programas eleitorais das siglas (as quais por si só são muito fracas, mas devem existir), muitos acabam votando em candidatos que oferecem alguma vantagem ou benesse. Os candidatos, por sua vez, passam a defender os interesses de grupos organizados, que muitas vezes financiam suas campanhas, deixando de lado o interesse coletivo da sociedade e até mesmo as bandeiras de seus partidos.
Muitos são motivos para estes problemas, os candidatos em épocas de campanhas deixam de lado o discurso propositivo em defesa de temas relevantes, como programas e projetos, partindo para os ataques pessoais e erros de seus adversários. Outros atores contribuíram para isso, os governos, lideres políticos e a elite.
A cada crise, busca-se uma alternativa, como: reforma política (muito discutida, mas nunca levada a termo até o presente momento), partidária (outra grande questão) ou até as chamadas mini reformas (que ocorrem, mas são feitas de forma casuístas, apenas para manter os privilégios conquistados). Tanto assim, que próximo das eleições o Congresso Nacional edita uma nova Lei Eleitoral ou altera a existente, muitas vezes confundindo os eleitores, a exemplo do que aconteceu recentemente com a obrigatoriedade ou não de apresentação de dois documentos para votar!

Brasileiros, Bolivianos, Paraguaios... A presença da imigração Boliviana e Paraguaia no Brasil

William Riascos

Segundo dados estatísticos o país com a maior presença de imigrantes na América é o Brasil e em especial os de origem latino-americana, da Bolívia e do Paraguai. Também existem outras imigrações significativas como do Peru e da Guiana Francesa. Essas afirmações, somadas com a idéia de que vivemos em comunidade e, portanto, devemos conhecê-la e dela participar, levam à necessidade de entender um pouco mais este processo de imigração e as condições em que vivem tais imigrantes, sobretudo os bolivianos e paraguaios.
A Bolívia tem aproximadamente 50 anos de presença de mão-de-obra no Brasil em condições de desqualificação profissional. De origem pobre, muitas vezes estes imigrantes são contratados desde seu país em condições precárias para o serviço de costura, consertos mecânicos, limpeza de fábricas e vendedoras, geralmente contratados por chineses e coreanos que vivem no Brasil. Em alguns casos identificados nas ruas e em lugares específicos por sua fisionomia, fenótipo e pela fala hispânica, esses bolivianos chegam ao país em uma condição indigna que muitas vezes se mantém.
A segunda maior imigração no Brasil ultimamente é de origem paraguaia. Os paraguaios mestiços são brancos e podem passar como qualquer brasileiro, a diferença é que não falam nem português nem espanhol, mas sim Guarani.
Das motivações para a imigração ao Brasil, no caso específico da cidade de São Paulo, são as condições sociais dos bolivianos e paraguaios em seu próprio país, de origem caipira, camponeses, trabalhadores da terra, pescadores ou de ofícios domésticos que não possuem segurança social, ou seja, vivem em situações de pobreza pior que as oferecidas pelos trabalhos quase escravos do Brasil.
Por não encontrarem possibilidades de trabalho digno em seu país de origem, eles procuram contatar amigos de famílias que tenham gente morando no Brasil e com quem emprega e transporta esses estrangeiros latino-americanos. Quando decidem vir ao Brasil para possível benefício de ambos (imigrantes e atravessadores), ao chegar na fronteira, alguns têm dinheiro para pagar a viagem, outros negociam pagar com seu trabalho.  O valor aproximado que se cobra para tal viagem da fronteira a São Paulo é de U$500,00, os quais são pagos aos atravessadores.
E aqui começa o sofrimento destas famílias em busca de um sonho e possibilidade de melhora. Uma vez instalados nos respectivos trabalhos arranjados operam máquinas de costura tanto na própria costura quanto no conserto dessas máquinas, são mecânicos ou faxineiros das mesmas e atuam como vendedores nas lojas. Passam a viver nas mesmas fábricas onde trabalham com seus filhos e família, locais improvisados dentro de casas antigas e sem recursos, muitas vezes em porões dos casarões velhos da região central de São Paulo.
Os assentamentos nos cortiços de São Paulo
Às sextas-feiras geralmente fazemos visitas e reuniões com os imigrantes bolivianos e paraguaios nos bairros do Pari, Brás, Canindé e na Av. João Teodoro onde se concentra o maior numero de cortiços. Passamos a compartilhar ali a tarde, celebrações de aniversário, futebol, costumes e comidas típicas, além de diálogos pessoais a fim de socializar e conhecer os reais sentimentos, muitos utópicos, que essa gente imigrante passa. Para ilustrar segue alguns exemplos:
Duas jovens paraguaias que chegaram a São Paulo há 03 anos, uma está com 17 anos outra com 21. Ambas moram em cortiços na Av. João Teodoro, a mais jovem trabalha como vendedora de roupas numa loja – sua rotina diária: acorda às 04 horas da manhã, pois não consegue dormir devido ao barulho dos moradores (todos vivem juntos num mesmo espaço). Levanta às 05 horas e não consegue tomar banho por causa da superpopulação do local e precisa chegar às 07 horas no emprego. Jornada de trabalho: 12 horas por dia. Para se alimentar e pegar a condução até o local do trabalho gasta por dia R$ 10,00, em 30 dias são R$ 300,00, não recebe beneficio nenhum por ser ilegal no Brasil, paga R$250,00 de aluguel do cortiço seu salário é de R$ 750,00.
A outra irmã chegou a Brasil com 18 anos, hoje com 21 tem um filho de 3 anos que levou ao Paraguai para viver com sua avó porque não consegue manter o menino nas condições do cortiço e por conta da jornada pesada de trabalho. Segundo ela, o marido depois que sai do trabalho não consegue ter um momento de lazer, passa trancado no cortiço. Ela diz que está perdendo a razão de viver, porém trabalha muito e ainda tem um fio de esperança em conseguir a casa própria.
Esses dois casos de mulheres imigrantes ilustram a situação de desesperança (e ao mesmo tempo de expectativas). O que fazer? Temos questionado a possibilidade de voltarem a seus países, mas eles preferem continuar aqui nessas condições. A resposta é porque querem conseguir a documentação de legalidade no Brasil e consequentemente trabalhos mais dignos;
Querem estudar;
Querem ser tratados com dignidade, pois se sentem minoria insignificante;
Necessitam de condições de tratamento de saúde;
A longo prazo, pensam em representações políticas.

Plano de Ação Global: Objetivos do desenvolvimento do milênio


Igualdade para Negros e Brancos é um dos objetivos para o Brasil

                                                                       Elenice Semini


A ONU estima que a população mundial seja de sete bilhões de pessoas e poderá chegar a dez bilhões até 2050. Haverá recontagem (Censo demográfico) em 156 (cento e cinquenta e seis) países, de sua população nos próximos dois anos. Os números são um alerta de que este aumento demográfico demandará maior consumo de energia, comida, moradia, infraestrutura. 
 
Como distribuir esses direitos de forma igualitária? Como combater a Fome e a Pobreza? Como reduzir a miséria no mundo?  
Todos os dias mais de 925 milhões de pessoas vão se deitar com fome; dentre elas, 300 milhões são crianças. Nos próximos anos, mais da metade delas podem ser salvas da má nutrição, de acordo com a Força Tarefa sobre a Fome do Projeto do Milênio das Nações Unidas. A Força Tarefa identificou 313 áreas no mundo que necessitam de ação prioritária.
“Segundo Assessoria da FAO (Organização Para Alimentação e Agricultura), os governos deveriam investir mais na agricultura, expandir as redes de segurança alimentar, e iniciar o mais rapidamente possível, os programas de assistência social, reforçando dessa forma, as atividades que possam gerar renda para áreas rurais e urbanas mais pobres de cada país. Para a entidade é fundamental que os países criem mecanismos adequados para lidar com situações de crise, para que possam proteger as populações mais pobres, as mais vulneráveis”.
A Organização das Nações Unidas em setembro de 2000, promoveu, a Assembléia do Milênio, que reuniu chefes de Estado e de governo: 191 delegações, debatendo questões mundiais e decidiram por aprovar a Declaração do Milênio, na qual reconheceram que o mundo já possui tecnologia e conhecimento para resolver a maioria dos problemas enfrentados pelos países pobres. A comunidade internacional solidariamente decidiu compartilhar ações,  para solução das graves questões,  adotando um plano de ação global.
FORÇAS-TAREFAS: 
Temáticas reuniu esforços de mais de 250 (duzentos e cinqüenta) especialistas de todo o mundo, incluindo cientistas e pesquisadores, formuladores de políticas, representantes de Ongs, Banco Mundial, Agências da ONU, FMI e o setor privado, que desenvolveram pesquisas em suas áreas de perícia sobre: Fome, Educação, Igualdade de Gênero, Saúde Infantil e Saúde Materna, AIDS, Acesso a Medicamentos Essenciais, Malária, Tuberculose, Meio Ambiente, Água, Moradores de Assentamentos Precários, Comércio, Ciência Tecnologia e Inovação. Estudos que resultaram recomendações para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. 
RECOMENDAÇÕES DA FORÇA TAREFA 
Partir do compromisso político para a ação por meio de um intenso trabalho de conscientização aumento de recursos, maior consciência pública e amplo monitoramento.
Reformar políticas e criar um ambiente propício para êxito das recomendações propostas.
Elevar a produtividade agrícola de pequenos lavradores que se esforçam para produzir alimento suficiente para sua subsistência.
Melhorar a nutrição de grupos vulneráveis que padecem de fome crônica
Reduzir a vulnerabilidade dos que sofrem de fome aguda por meio de redes de segurança produtivas.
Fazer os mercados trabalharem para os pobres com o objetivo de impulsionar a renda daqueles que se esforçam para pagar pelo alimento.
Restaurar e conservar os recursos naturais essenciais para a segurança alimentar.
A Força Tarefa sobre a Fome desenvolveu uma ampla diversidade de recomendações acreditando que, cada país, região ou comunidade pode escolher a combinação certa de intervenções mais apropriadas às suas necessidades e circunstâncias.
METAS DO MILÊNIO
Plano de Ação Global que prioriza várias metas definidas nas conferências mundiais, e tem como objetivo um conjunto de programas para desenvolvimento e, a erradicação da pobreza e da fome, doenças, analfabetismo, desigualdade de gênero, degradação ambiental, especificamente em países em desenvolvimento. Objetivos do Milênio (ODM) ,  que foram adotados pelos estados membros das Nações Unidas, que recomenda esforços  de alcançá-los até 2015, com finalidade de efetivação das propostas do Plano de Ação Global.O projeto tem como meta identificar:  quantas mães necessitam de acesso a clínicas médicas, quantas crianças necessitam de imunização, quantos professores devem existir em cada distrito, quantas bombas de água devem ser instaladas,  como reabilitar bairros degradados no nível das comunidades, utilização de terrenos públicos desocupados para a construção de habitação a baixo custo, fornecimento de refeições gratuitas nas escolas a todas as crianças entre outras Ações de Impacto Rápido, que contribuirão para melhorar decisivamente o bem estar de milhões de pessoas e possibilite a realização dos Objetivos, com a destinação de recursos adequados. 
OBJETIVOS DO MILÊNIO
1. Erradicar a extrema pobreza e a fome
2. Atingir o ensino básico universal
3. Promover a igualdade entre os sexos e a valorização da mulher
4. Reduzir a mortalidade Infantil
5. Melhorar a saúde das gestantes
6. Combater a AIDS, a Malária e outras doenças
7. Garantir a qualidade de vida e respeito ao meio ambiente
8. Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento
OBJETIVOS DO BRASIL
1. Erradicar a extrema pobreza e a fome
2. Atingir o ensino básico universal
3. Promover a Igualdade de gênero e a autonomia das mulheres
4. Reduzir a mortalidade infantil
5. Melhorar a saúde materna
6. Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças
7. Garantir a sustentabilidade ambiental
8. Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.
9. Garantir que as melhorias obtidas na luta pelo cumprimento dos objetivos do milênio promovam igualdade de condições para negros e brancos.
OBJETIVOS DO MILÊNIO SEM RACISMO 
Não adianta melhorar apenas as estatísticas gerais sem oferecer condições iguais a todas as etnias. A ONU a partir de 2006 recomendou um nono objetivo para o Brasil. Tal meta foi denominada de “Os Objetivos do Milênio Sem O Racismo” e será levada em conta na analise dos resultados finais da campanha. Será considerado cumpridos os 8 (oito) objetivos principais se, em 2015 negros e brancos estiverem em condições iguais.
Ações governamentais que possibilitem o empoderamento da população negra historicamente e secularmente discriminada e marginalizada serão analisadas nos resultados finais da campanha.
O Movimento Social Negro (produziu/produz há décadas pesquisas/conferências/seminários/debates sobre o racismo e seus efeitos que permeia a sociedade brasileira), institutos de pesquisas e entidades: IPEA, IBGE, BANCO MUNDIAL, ONU, UNICEF, LAESER indicam a exclusão social do negro, e a necessidade de adoção de ações afirmativas para combater e reduzir desigualdades de raça e cor.  
A conquista das metas indica a construção de um Brasil mais igual, soberano, solidário e justo.
Autoridades governamentais com suas ações políticas, e milhões de voluntários no mundo, devem irmanar-se para cumprimento das Metas definidas pela ONU, por um mundo mais justo e solidário.   
 
Fonte/pesquisa Millenium Project http: http://www.pnud.org.br/milenio/

Compendio para Sustentabilidade
http://www.institutoatkwhh.org.br/compendio/?q=node/19

Políticas Públicas e a Desigualdade Racial no Brasil


Cida Mineiro
“O racismo impede o livre exercício da cidadania e o acesso democrático ao desenvolvimento. Deve, portanto, ser eliminado para permitir que o país se desenvolva com equidade social. Para tanto, torna-se necessária a aplicação de ações afirmativas, que se definem como políticas voltadas à concretização do principio constitucional da igualdade e à neutralização dos efeitos da discriminação racial” (Edson Santos)

Para abordarmos este assunto é necessário compreendermos o que significa: Preconceito, Racismo e Discriminação.
- Preconceito: é um “juízo” preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma “atitude discriminatória” perante pessoas, lugares ou tradições considerados diferentes ou "estranhos". Costuma indicar desconhecimento pejorativo de alguém, ou de um grupo social, ao que lhe é diferente. As formas mais comuns de preconceito são social, racial e sexual.
- Racismo: é a tendência do pensamento, ou do modo de pensar, em que se dá grande importância à noção da existência de raças humanas distintas e superiores umas às outras. Onde existe a convicção de que alguns indivíduos e sua relação entre características físicas hereditárias e determinados traços de caráter e inteligência ou manifestações culturais são superiores a outros
- Discriminação: significa "fazer uma distinção". Existem diversos significados  para a palavra, incluindo a discriminação estatística ou a atividade de um circuito chamado discriminador. O significado mais comum, no entanto, tem a ver com a discriminação sociológica (social, racial, religiosa, sexual, por idade ou nacionalidade), que pode levar à exclusão social.
Combater a desigualdade racial sem enfrentar sua causa parece uma ação abstrata, senão conseguimos determinar a causa como poderemos apontar as políticas públicas necessárias para o devido enfrentamento do tripé: preconceito, racismo e discriminação?
Quando se fala em combate, fala-se em criação de leis, mas não dever ser só isso: a efetivação real está na mudança de um pensamento histórico em que as diferenças podem ser iguais, dependendo única e exclusivamente de nossa atitude e do nosso olhar.
Bibliografia:
·         As políticas públicas e a desigualdade racial no Brasil – 120 anos após a abolição (2ª edição – IPEA);
·         Yoté – o jogo da nossa historia (MEC);
·         A construção de uma Política de Promoção da Igualdade Racial: uma analise dos últimos 20 anos; (IPEA)
·         Wikipédia.

20 de Novembro Dia da Consciência Negra.

Separados Mas Iguais, É Preciso Sentir na Pele.
                                                                                                                                               Elenice Semini
20 de Novembro representa o resgate de parte significativa da história do Brasil, a luta de africanos e afros descendentes. É a possibilidade de juntos e com consciência buscarmos soluções para desconstruir o racismo, que resulta no desrespeito aos direitos humanos. É a contínua luta heróica do movimento social negro por igualdade, justiça, liberdade e respeito à diversidade.
O Brasil é uma das Nações que foi profundamente influenciada pela escravidão negra. Exceto os Estados Unidos, nenhuma república americana possui tão grande população afra descendente. O Brasil foi construído com sangue, suor e lágrimas do povo negro, o braço negro foi o elemento que moldou a civilização brasileira. São 350 anos de trabalho escravo, desumanizador.
“Ele trabalhou a cultura da cana de açúcar e do café, extraiu os metais das minas. Mas em quatro séculos de um labor contínuo, até a época da abolição da escravatura, quantos sofrimentos, quantos vexames, que história longa e dolorosa a do escravo negro, no Brasil, como em outras partes do Mundo!”
Desde a sua captura, no Continente Negro, começou o seu martírio. Não é aqui o lugar de se narrar com pormenores a atuação do europeu, de parceria com os mercadores árabes, promovendo o cerco e a captura dos desprevenidos africanos. Conduzidos à presença do Soba, eram os africanos remetidos aos compradores a troco de ninharias: tabaco, aguardente, miçangas, espingardas velhas, facas e até búzios do sul da Bahia, no tráfico brasileiro.
A viagem nos navios negreiros era uma epopéia. Na maior parte das vezes, os negros vinham algemados, muitos deles presos dois a dois pelo pescoço, numa dupla canga de madeira. Ao entrarem no navio, eram marcados a ferro em brasa, nas costas, no peito ou nos braços, com o sinal convencionado.
Quando não eram conduzidos algemados ou presos pelo pescoço, ou ainda acorrentados, eram atirados no porão do navio negreiro; numa confusão infernal de corpos literalmente apinhados. A travessia da Costa da Guiné a Pernambuco levava de treze a vinte dias. Cada navio transportava uma média de trezentos escravos, citando-se que alguns, porém carregavam quatrocentos e seiscentas “peças”.
Imagine-se o sofrimento de uma massa humana de centenas de indivíduos, arrumados indistintamente num porão infecto, quase sem movimentos, com alimentação reduzidíssima... Atestam as testemunhas da época que os escravos eram servidos por um só homem, que lhes servia a ração de comida e bebida, uma só vez pro dia, e à vezes menos.
Daí a mortalidade excessiva dos pobres negros. E os navios, por isso mesmo, chamados de tumbeiros, perdiam quase sempre de 50% a 70% da sua carga. Dizimavam-na as doenças de carência, como o escorbuto, a caquexia, as doenças infecciosas, o suicídio...
No Brasil, os navios negreiros despejavam a sua carga na Bahia, em Pernambuco, no Maranhão, no Rio de Janeiro, onde foram criados grandes mercados de escravos os Vallongos. Os escravos desembarcavam nus ou quase nus, apenas envolvidos em tangas de pano grosseiro de algodão.
Eram marcados a ferro, trabalhavam de antes do por do sol até a noite vigiados por capitães do mato, alguns fazendeiros adotavam as novenas e trezenas, que eram castigos que se repetiam nove ou treze noites. Por vezes eram chicoteados no Pelourinho, enforcados. Instrumentos de suplício foram utilizados como tronco de madeira ou de ferro, instrumento que imobilizava o escravo pelos tornozelos, e onde ficavam dias a fio; o libambo, que o cingia pelo pescoço; as algemas e os anjinhos, que lhe prendiam as mãos ou comprimiam os dedos polegares; os cepos e machos que lhe tolhiam os movimentos dos pés; as máscaras para o rosto, bola de ferro nos pés, castigo dos meninos que por fome comiam terra; e as gargalheiras, as correntes, as peias... estupros, prostituição para ganho de escravocratas.
Subalimentado, maltratado, castigado, o Negro teve diminuída sua resistência física. A doença e a morte coroaram muitas vezes a obra sinistra. A reação pelo suicídio, pela fuga, auto defesa, foi conseqüência dos maus tratos. Banzo é um estado psicológico especial que acometeu o Negro, doença causada pela tristeza, nostalgia era um suicídio lento. Eram comuns os suicídios. Muitas vezes o capitão do mato ia encontrar o Negro fugido dependurado numa corda, enforcado num galho de árvore, em plena selva.
As deformações físicas, as mutilações de corpo, as cicatrizes... apareciam ainda como conseqüência dos maus tratos... do excesso de trabalho, das condições deficitárias de higiene, enfim marcas de surras, cicatrizes no dorso, nas nádegas, no pescoço, queimaduras, deformações profissionais etc. como conseqüência de trabalho excessivo realizado em condições desfavoráveis de meio: alimentação, má higiene, castigos, opressão.
Na situação de escravização e com todas essas condições desfavoráveis, não seria criada a economia brasileira, não seria escrita a história da civilização brasileira, sem o concurso do trabalho do Negro, lavrando o solo, explorando as minas, desbravando as terras virgens do Novo Mundo”.
A escravização de africanos e negros brasileiros teve início em 1530, a abolição ocorreu em 1888, constituindo-se num “abandono” de mão de obra negra em massa.
A abolição não integrou o negro como cidadão de direitos: sem acesso a terra, escola, moradia, emprego, sem políticas públicas de promoção e desenvolvimento, surge o subemprego, a negativa de cidadania a discriminação, a marginalidade e a miséria.
Surgem os morros, palafitas, habitações precárias, quilombos isolados mantiveram-se nesta situação como forma de proteção.
“O preconceito que tisna os brasileiros de origem africana não é neles marcado apenas fisicamente, como se fazia outrora em com ferro em brasa. Ele aparece registrado como uma degradação social permanente em todos os levantamentos estatísticos. Que as nossas classes dominantes tenham enfim, a mínima hombridade de reconhecer que esse colossal passivo de nossa herança histórica, ainda nem começou” Fábio Konder Comparato. Jurista, diretor Escola de Governo SP
Após 122 anos da abolição da escravatura, o Brasil é um dos 10 (dez) países mais desiguais do mundo, atestado por relatório do Programa de Desenvolvimento (PNUD) da Organização das Nações Unidas. Também a 8ª economia mundial, um país em desenvolvimento e, um dos grandes líderes da América Latina. O índice Gini – medição do grau de desigualdade a partir da renda per capita – para o Brasil ficou em torno de 0,56, quanto mais próximo de um, maior a desigualdade.
Esta desigualdade é a estrutura do racismo, que impede a mobilidade social, provocando aparteamento que mantém a população negra na situação perversa de discriminação racial, espacial, política, econômica, social e cultural.
Analisando as denúncias do pós abolição, a partir da década na década de 30, desde a Frente Negra Brasileira (a maior organização política/social e cultural de negros, no Brasil), e a incansável, contínua e heróica ação de Militantes do Movimento Social Negro; que sentindo na pele os efeitos do racismo; as denuncias são idênticas – se prolongam no tempo e no espaço. São séculos de desprezo e humilhações, provocando dor, sofrimentos a várias gerações.
Como combater a origem da miséria, pobreza, exclusão, não acesso a serviços básicos de cidadania - educação saúde, moradia, saneamento, trabalho, previdência social, proteção a maternidade e a infância, lazer, segurança, justiça – situação de desvantagem apontada no resultado de estatísticas oficiais do IPEA - Instituto de Pesquisas Aplicadas, ligada ao Ministério do Planejamento, IBGE, UNICEF, ONU, como mantenedora de profundas desigualdades entre negros e brancos.
Para a PNUD /Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento: A Idéia de Racismo Institucional é: “Fracasso coletivo de uma organização seja ela pública ou privada em prover um serviço apropriado e profissional às pessoas em razão de sua cor, cultura ou origem étnica”
Como se Manifesta: ”O racismo institucional pode ser visto ou detectado em processos, atitudes ou comportamentos que denotam discriminação resultante de preconceito inconsciente, ignorância, falta de atenção ou de estereótipos racistas que colocam minorias étnicas em desvantagem.”
Conseqüências: “O racismo institucional determina a inércia das instituições e organizações frente às evidências das desigualdades raciais” "PNUD Unidade de Avaliação e Desenvolvimento Local.”

A Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, incluiu o dia 20 de Novembro no calendário escolar, data em que comemoramos o Dia da Consciência Negra. A Lei torna obrigatório o ensino sobre a História e Cultura Afro Brasileira. Com isso professores devem inserir em seus programas aulas obre os seguintes temas: História da África e dos africanos, luta dos negros no Brasil, cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional.
“...Quilombo de Palmares durou quase um século. São provas de resistência e de defesa da dignidade humana. Isso faz parte do patrimônio histórico de todos os brasileiros. O branco e o negro têm que conhecer essa história porque é ai que vão respeitar uns aos outros. A história da escravidão é uma história de violência. Quando se fala de contribuições, nunca se fala da África.” Kabengele Munanga, antropólogo, professor da USP
20 de Novembro de 1695, Zumbi, líder do Quilombo de Palmares, foi morto em uma emboscada na Serra Dois Irmãos, em Pernambuco após defender a liberdade de seu povo e, liderar por décadas a resistência ao escravismo e opressão, dos governantes da época e da Coroa Portuguesa.
A professora Maria Victoria Benevides, socióloga, diretora Escola de Governo SP, em sua tese “Educação para a Democracia” (disponível na Internet) apresentado numa conferência proferida no âmbito do concurso para Professor Titular em Sociologia da Educação na FEUS, 1996.
“Democracia é o regime político fundado na soberania popular e no respeito integral aos direitos humanos. Esta breve definição tem a vantagem de agregar democracia política e democracia social. Em outros termos reúne os pilares da “democracia dos antigos” – tão bem explicitada por Benjamin Constant e Hanna Arendt, como a liberdade para participação na vida pública aos valores do liberalismo e da democracia moderna, quais sejam as liberdades civis, a igualdade e a solidariedade, a alternância e a transparência no poder (contra os arcana império de que fala Bobbio), o respeito à diversidade e a tolerância. Educação é aqui entendida, basicamente, como a formação do ser humano para desenvolver suas potencialidades de conhecimento, julgamento e escolha para viver conscientemente em sociedade, o que inclui também a noção de que o processo educacional em si, contribui tanto para conservar quanto para mudar valores, crenças, mentalidades, costumes e práticas.” 
O conhecimento da história do povo negro e sua contribuição à Nação está na possibilidade de um novo olhar, que trará o reconhecimento, a compreensão necessária, revelará nomes, lembranças e irá mostrar a face das vítimas, que deixarão de ser números, mas a mudança de costumes, a mentalidade forjada em 400 anos de escravidão, faz-se necessária com educação aliada ao conhecimento visual, auditivo, sensorial para despertar consciências.
O Brasil dará um grande passo para a modernidade nas relações raciais e sociais, adotando políticas públicas que garantam participação e desenvolvimento da população negra, e de outros povos historicamente e secularmente discriminados. É necessária e urgente a adoção de programas educacionais que assegurem a mobilidade social, equidade, emancipação e cidadania. Herança Negra: A construção do Memorial da Escravidão, que pode representar um processo importante na formação educacional do povo, principalmente das futuras gerações, que não podem receber a herança do racismo, do “separados, mas iguais”.
Um museu que restaure o passado e, construa o futuro com educação, tolerância, solidariedade, respeito aos valores da diversidade, respeito à história dos povos, com maior integração, justiça e igualdade. Expor, denunciar de maneira educativa possibilita que sociedades humanas reconheçam erros do passado, é uma excelente oportunidade de rever valores, conceitos e amar o próximo, partilhar valores.
 Museu do Apartheid de Joannesburgo, África do Sul: Na entrada: “Visite-nos e entenda como toda forma de iniqüidade racial leva inevitavelmente à destruição”
O guia, cidadão negro sul africano sugere “Troque de cor hoje”. E se você for branco, receberá um ingresso para a entrada dos negros, a entrada é dividida entre branco e não branco passa por caminhos diferentes até chegar ao Museu. Os brancos sentem o que é o racismo na pele, como vivem os negros, a sensação de humilhação, desprezo e o desrespeito a dignidade humana. Há um acervo interminável sobre a cronologia do regime de segregação que vigorou de 1948 a 1994. Vídeos, fotos e objetos direcionam o visitante para uma realidade sombria, na qual viveram os negros por décadas. Museu é um espaço para despertar os sentidos do visitante. Para ver a humilhação e os abusos sentidos pelos negros. Para ouvir os discursos de heróis famosos ou anônimos. Nos anos 1980, carros eram usados em bairros de negros para combater greves, protestos ou qualquer tipo de manifestação. E os que fossem presos, eram obrigados a irem deitados no chão de aço, não sentados nas cadeiras, como policiais. Eles ficavam sob os pés dos policiais até chegarem ao presídio ou destino final.    
É um Museu para sentir. Não só revolta, vergonha ou indignação, mas também esperança. Sam deixa o local repetindo o gesto que todos fazem ao sair do museu: coloca uma pedra debaixo da nova bandeira sul africana. Cada pedra um visitante. Esse gesto representa uma homenagem às muitas pessoas que dedicaram suas vidas ao fim do apartheid. A nova bandeira Sul africana passou a ser usada depois da eleição de Nelson Mandela em 1994. Uma das explicações para o símbolo da bandeira um Y deitado é negros e brancos caminhando juntos agora em direção a uma conciliação.
Museu Internacional da Escravidão: Em 23 de agosto de 2007, nos 200 anos do Ato Pela Abolição do Comércio de Escravos, foi inaugurado em Liverpool na Inglaterra, o Museu Internacional da Escravidão, que expõe os fundamentos econômicos da escravidão, ajudam a entender a história, retrata o comércio transatlântico de escravos que vigorou do séc.XVI ao XIX. 
“Vida na África Ocidental”, história dessa parte do continente africano e de seus habitantes, principais vítimas do tráfico transatlântico; “Passagem Medina”, propõe a reflexão sobre violência, torturas e traumas sofridos nas viagens de travessia entre África e América; e “Legados da escravidão”, que revela o significado da discriminação enfrentada pelos afrodescendentes após a abolição da escravidão” e conseqüências da exploração/escravização para as diferentes partes envolvidas.
Museu da Escravatura de Angola: Criado com o objetivo de informar sobre a gênese da essência da história da escravatura em Angola. A sede do Museu situa-se-se no interior de uma capela do séc. XVII, denominada “A Capela da Casa Grande”, localizada no Morro da Cruz. A Capela era o lugar onde se realizavam batismos antes do embarque nos navios negreiros que os levavam às colônias.
Dia da Consciência Negra homenageia o grande líder Zumbi dos Palmares, que lutou e morreu pelo ideal de liberdade para seu povo. É a reverência justa à memória de milhões de vítimas da escravidão. Representa a esperança de um novo tempo com justiça, igualdade e solidariedade. Somos diferentes, temos histórias diferentes, mas devemos caminhar juntos no combate as injustiças humanas, reafirmar o valor da ética como essência da humanidade, somar esforços para fortalecimento da democracia.
Fontes: O negro na Civilização Brasileira, Artur Ramos
              Jornal do Brasil, Por Dentro da África do Sul, Natália Luz

Museu da Escravidão em Liverpool: